03/10/2015

Crepúsculo de Outono




O crepúsculo cai, manso como uma bênção.
Dir-se-á que o rio chora a prisão de seu leito...
As grandes mãos da sombra evangélicas pensam
As feridas que a vida abriu em cada peito. 

O outono amarelece e despoja os lariços.
Um corvo passa e grasna, e deixa esparso no ar
O terror augural de encantos e feitiços.
As flores morrem.  Toda a relva entra a murchar. 

Os pinheiros porém viçam, e serão breve
Todo o verde que a vista espairecendo vejas,
Mais negros sobre a alvura inânime da neve,
Altos e espirituais como flechas de igrejas. 

Um sino plange. A sua voz ritma o murmúrio
Do rio, e isso parece a voz da solidão.
E essa voz enche o vale... o horizonte purpúreo...
Consoladora como um divino perdão. 

O sol fundiu a neve. A folhagem vermelha
Reponta. Apenas há, nos barrancos retortos,
Flocos, que a luz do poente extática semelha
A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos. 

A sombra casa os sons numa grave harmonia.
E tamanha esperança e uma tão grande paz
Avultam do clarão que cinge a serrania,
Como se houvesse aurora e o mar cantando atrás.


Manuel Bandeira

6 comentários:

  1. Ah! Maria, vir aqui, o que já é um imenso prazer, e saborear Bandeira...
    era o que mais precisava, nesse final de noite do começo de um final de semana: obrigada!

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  2. Olá amiga suas escolhas são sempre maravilhosas. Este poeta tirou um pouco da minha timidez, pois quando era estudante a professora da língua portuguesa me fazia recitar seus versos em público, , visto que eu era uma concha! Na época eu o odiava, assim como a todos e quaisquer poetas, hoje eu amo poesia e não sou mais tímida em falar em público.
    mil beijinhos, Léah

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  3. Bom dia Maria Rodrigues

    Excelente poema!!
    Amei

    Bom sábado
    Beijos

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  4. Olá, querida Maria
    Que o Outono lhe seja favorável!
    Bjm fraterno

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  5. ...belas palavras sobre o outono...para mim, a estação de explosão de cores e sentidos...
    Beijo, Maria!

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  6. Belíssimo poema!... O outono da estação... e da própria vida, nas palavras de Manuel Bandeira...
    Gostei imenso!
    Bjs
    Ana

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